A aula de
hoje tende a ser polêmica, tendo em vista que o tema divórcio é um dos assuntos
mais controvertidos das Escrituras. Ciente dessa realidade, objetivamos, com
esta aula, não apenas esclarecer, com base na Bíblia, o que é e as
possibilidades de divórcio, mas, também, apresentar encaminhamentos para que os
crentes evitem, sempre que possível, passar por essa experiência frustrante.
1. O
DIVÓRCIO NO ANTIGO TESTAMENTO
A palavra
divórcio, do latim “divortium”, significa separar-se e diz respeito ao acordo
judicial que os cônjuges, em comum acordo, decidem, perante a lei, dissolver o
vínculo do casamento. No Antigo Testamento, essa prática era concretizada
através da dissolução do vínculo matrimonial, dando o direito da parte inocente
contrair novas núpcias (Dt. 24.2), a esse tipo de divórcio, ou repúdio, Jesus
se refere em Mt. 5.31,32; 19.9. As razões que justificam o divórcio, de acordo
com a Lei Mosaica, se encontram em Dt. 24.1-4, expressamente quando o homem
identificasse, na mulher, uma “coisa indecente” ou “feia”. Em conformidade com
a Lei de Moisés, o homem não podia conceder divórcio à mulher por dois motivos:
1) quando a esposa fosse acusada falsamente de infidelidade sexual (Dt.
22.13-19); e 2) quando um homem tirasse a virgindade de uma mulher e fosse
compelido a se casar com ela (Ex. 22.16,17; Dt. 22.28,29). No Antigo
Testamento, encontramos dois contextos nos quais o divórcio foi recomendado, o
primeiro no caso de casamentos mistos, depois que os judeus retornaram do
cativeiro babilônico (Ed. 9 e 10; Ne. 13). Em Ml. 2.16, texto no qual Deus
revela Sua insatisfação com o divórcio, também, nos versículos 14 e 15, orienta
para que os judeus retornem à mulher da sua mocidade. As tentativas de
interpretação dos textos do Antigo Testamento deu origem, no período
interbíblico, a duas escolas: Shammai – extremamente radical, defendia que o
divórcio somente poderia acontecer em casos de adultério. Para esse rabino
judeu, a “coisa indecente” de Dt. 24.1 se referia ao pecado sexual; Hillei, -
mais liberal, argumentava que o divórcio poderia acontecer por qualquer motivo,
assim sendo, a expressão “coisa indecente”, seria qualquer coisa que o marido
não gostasse na mulher. Se o marido não gostasse da comida preparada por sua
esposa poderia considerar isso uma “coisa indecente”, justificando o divórcio.
2. O
DIVÓRCIO NO NOVO TESTAMENTO
Esse era
o contexto no qual o Senhor Jesus se deparou, e a respeito do qual lemos em Mt.
5.31,32, em que o Mestre se opõe ao divórcio por qualquer motivo, a não ser em
virtude de relações sexuais ilícitas. Certamente o divórcio era muito comum
naqueles dias, não por acaso a mulher samaritana já havia se divorciado cinco
vezes (Jo. 4.18), o objetivo do Senhor era coibir as interpretações
demasiadamente liberais a respeito do assunto. A palavra grega para “relações
sexuais ilícitas” é porneia, que aparece no Novo Testamento para se referir não
especificamente ao adultério, mas a prostituição, fornicação, adultério e
imoralidade. Esse termo grego é mais amplo, e diz respeito a todo e qualquer
tipo de relação sexual ilícita, diferentemente de moicheia, que tecnicamente se
refere ao adultério, restrito aos casados (Mc. 7.21). Em Mt. 19.3-12, o
divórcio explicitado por Jesus está no contexto de uma pergunta feita pelos
fariseus, com base nas escolas de interpretação em evidência na época, mais
especificamente a de Shammai e Hillei (Mt. 19.3). Os fariseus queriam
posicionar Jesus dentro de uma dessas escolas de interpretação judaica em
relação ao divórcio. A resposta de Jesus não se inscreve em nenhuma dessas
escolas, Ele remete diretamente ao princípio escriturístico de Gn. 2.24, da
indissolubilidade do casamento. O Senhor adverte que “quem repudiar sua mulher,
não sendo por causa de relações sexuais ilícitas (porneia no grego) e casar com
outra, comete adultério (moicheia no grego). Através de Moisés, Deus permitiu
que se entregasse Carta de Divórcio (ou de Repúdio) por causa da dureza do
coração dos homens (Mt. 19.7,8). O divórcio, por conseguinte, é resultante da
natureza caída, da perversão dos corações dos homens. Nas Epístolas de Paulo
existem poucas passagens alusivas ao divórcio, as principais delas são Rm.
7.1-3 e I Co. 7.10-15. Na primeira passagem o apóstolo dos gentios não está
tratando diretamente a respeito do divórcio, antes pretende ilustrar, a partir
da indissolubilidade do casamento, a liberdade que há em Cristo, em comparação
com a Lei Mosaica. Como regra geral, enquanto o marido viver a mulher estará
ligada a ele pelo matrimônio, mas Paulo não está tratando da exceção, quando
ocorre divórcio (Rm. 7.3). Na passagem da Epístola aos Coríntios, Paulo orienta
os casais crentes, mais especificamente às mulheres, que “não se apartem dos
seus maridos”, mesmo que eles sejam descrentes. A exceção é se o marido
descrente não quiser conviver com a esposa crente, e resolver abandoná-la,
nesse caso ela está livre, não mais sujeita à servidão (I Co. 7.10-15).
Evidentemente todo esforço deve ser feito para que as partes vivam em paz, e
que haja espaço para a reconciliação, o divórcio deve ser sempre a última
saída. Como o texto bíblico afirma que a parte vitimada “não fica sujeito à
servidão”, infere-se que essa está livre para contrair novas núpcias, contanto
que seja “no Senhor” (I Co. 7.39).
3. O
DIVÓRCIO E A IGREJA
No Brasil
o divórcio foi instituído, oficialmente, com a Emenda Constitucional n. 9, de
28 de junho de 1977 e regulamentada pela Lei 6515 de 26 de dezembro desse mesmo
ano. A Lei 11441, de 4 de janeiro de 2007, facilitou mais ainda a ocorrência do
divórcio, tendo em vista que esse passou a ser requerido por via
administrativa, dispensando a necessidade de uma Ação Judicial, bastando apenas
que um advogado compareça ao tabelionato de notas com um requerimento, mas essa
facilidade somente é possível caso os casados não tenha filhos menores ou
incapazes. O divórcio no Brasil tem crescido consideravelmente, em 23 anos, deu
um salto para 200%, um divórcio para cada quatro casamentos. Em 2009 surgiu a
PEC 0028/2010, que posteriormente se transformou na EC 66/2010, que simplifica a
concretização do divórcio, acabando com o cumprimento de prazos para a sua
realização. Mas o posicionamento da Igreja deve ser diferente daquele exarado
na Legislação. O divórcio, em oposição ao que vem fazendo o governo, não deve
ser incentivado pela Igreja. Os dois casos com respaldo bíblicos para o
divórcio são: a imoralidade sexual da parte do cônjuge e o abandono do
descrente pela parte incrédula. Nesses casos, ao que tudo indica, há possibilidade de novo casamento. Evidentemente a
Igreja precisa ser cuidadosa e avaliar cada caso individualmente, um exemplo é
o de irmãs que não são abandonadas pelo marido descrente, mas que são vítimas
de espancamento. Outro aspecto a ser considerado é o caso de pessoas que se
divorciaram antes de virem para a igreja, no tempo da ignorância (At. 17.30),
não podendo ser julgadas a partir dos mesmos critérios daqueles que sempre
foram crentes (II Co. 5.17). As pessoas que passaram pela frustrante e
angustiante experiência do divórcio, especialmente antes de se tornarem crentes,
devem ser amparadas pela igreja, como fez Jesus com a mulher samaritana (Jo.
4.17,18).
CONCLUSÃO
Consoante
ao exposto, compreendemos, pela Bíblia, tanto o Antigo quanto o Novo
Testamento, que o divórcio não deve ser incentivado pela igreja. Muito pelo
contrário, o princípio da indissolubilidade do casamento, como aliança, é a
base do relacionamento. Mas por causa da imoralidade sexual, e do abandono do
cônjuge, é possível que o casamento termine em divórcio. Nesses casos, a parte
vitimada tem liberdade de contrair novas núpcias, contanto que seja no Senhor.
BIBLIOGRAFIA
LUGT, H.
V. Divórcio: o que a Bíblia ensina. Curitiba: Publicações RBC, 2008.
SILVA, E.
S. Analisando o divórcio à luz da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1998.
Prof. José Roberto A. Barbosa
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