Após admoestar os crentes filipenses que o tenham
como modelo a ser imitado, Paulo os adverte quanto aos perigos daqueles a quem
denomina de “inimigos da cruz de Cristo”. Estudaremos, na aula de hoje, que
esse não apenas devem ser evitados, mas também confrontados, por comprometerem
a veracidade do evangelho. Ao final destacaremos que a perdição deles está
prevista nas Escrituras, e que nós, os crentes em Jesus, estamos fundamentados
em uma viva esperança, eterna que vem de Deus.
1. OS
INIMIGOS DA CRUZ
Paulo, como pastor amoroso, protege suas ovelhas
das ameaços dos inimigos, dos falsos mestres, daqueles que se infiltravam no
meio do povo de Deus, somente para tirar proveito. Os inimigos da cruz de Cristo,
a respeito dos quais o Apóstolo trata em suas Epístolas, mais especificamente
Gálatas e Filipenses, são prioritariamente os judaizantes. Esse movimento se
tornou servo dos caprichos religiosos, achavam que dependiam de suas dietas
alimentares para serem salvos. Por isso “o deus deles era o ventre”, pois determinavam
previamente o que deveriam ou não comer para serem santos. A circuncisão,
conforme já destacamos anteriormente, era uma condição imposta por eles para o
pertencimento a Cristo. Esses, diferentemente de Paulo, e dos crentes de todas
as gerações, se gloriavam não na cruz, isto é, no sacrifício de Jesus, mas em
suas práticas legalistas (Gl. 6.12-15). Paulo destacou, assim como fez o autor
da Epístola aos Hebreus, que o véu do templo foi rasgado, e que o homem agora
tem livre acesso a Deus, por meio de Jesus Cristo (Hb. 10.19-25). A
circuncisão, como qualquer outra prática religiosa, é incapaz de conduzir o ser
humano à salvação (Ef. 2.8-16). Existem muitos evangélicos nestes dias que
acham que são salvos por algo que façam ou deixam de fazer. A vaidade de alguns
está no cumprimento do cabelo, ou de uma saia, restrições comumente
direcionadas apenas às mulheres. Mas havia outro grupo entre os crentes
filipenses, esses se voltavam para o lado oposto, eram totalmente liberais.
Esses não eram legalistas, mas libertinos, argumentavam que os crentes podiam
pecar, pois o corpo, a parte negativa do ser humano, seria destruído na
sepultura. Esse pensamento foi influenciado pelo dualismo grego, a crença
filosófica que a matéria era má, e por conseguinte, seria descartada no
sepulcro. Essa cosmovisão helenista tem assumido muitas formas no cristianismo
moderno, a mais perigosa é a do universalismo. Alguns líderes eclesiásticos
estão defendendo que todas as pessoas serão salvas, pouco importando se
receberam ou não a Cristo. Mas Paulo, em suas epístolas, tanto confrontou o
ascetismo legalista (I Co. 7.1) quanto à libertinagem anomista (I Co. 6.12), e
defendeu a produção do fruto do Espírito (Gl. 5.22).
2. O FIM
DELES É A PERDIÇÃO
Esses falsos mestres estão investindo na destruição
deles mesmos, pois mesmo pensando que estão adorando a Deus, na verdade estão
adorando a eles mesmos (Fp. 3.19). Como o deus deles é o ventre, koilia em
grego, apenas se gloriam do próprio umbigo. A vida deles é centrada no eu, são
incapazes de se submeterem à autoridade da Palavra de Deus. Não admitem
qualquer disciplina espiritual: oração, jejum e meditação. Os púlpitos
evangélicos estão repletos de pregadores que tratam de assuntos que nada têm a
ver com o evangelho. Os supostos pastores, que na verdade querem ser chamados
de bispos e apóstolos, pregam apenas a si mesmos. Muitas igrejas, que não podem
ser consideradas evangélicas no sentido próprio do termo, estão alicerçadas
apenas no amor ao dinheiro. Esses pseudoevangélicos usam a Bíblia apenas para
cooptar as pessoas a satisfazerem seus interesses. Não existe qualquer
procedimento exegético na exposição das Escrituras. Eles pincelam os textos a
seu bel-prazer, de acordo com suas conveniências, sem atentar para o sentido
gramatical e contextual do versículo. Paulo diz que “a glória deles está na sua
infâmia” (Fp. 3.19), isto é, eles deveriam se envergonhar do que estavam
fazendo. Eles não apenas se entregavam dissolutamente ao pecado, mas também se
vangloriavam dos seus atos libertinos. Eles falavam a respeito de Deus, mas a
preocupação central deles era com o terreno, “apenas para as coisas materiais”.
O meio evangélico está cheio desse tipo de pregador que não sabe mais o que
significa ser salvo e ir para o céu. Na verdade, eles não têm qualquer
sentimento em relação ao céu, pois o foco está exclusivamente nos valores
terrenos. Eles pregam a ganância, travestida de prosperidade terrena, como se
fosse o único prêmio a ser buscado pelos crentes. Eles ficam apavorados diante
da morte, negam-se a tratar desse assunto. Por isso, para eles, a saúde física
é idolatrada, argumentam até que um cristão de fé não pode adoecer. Muitos
pseudoevangélicos estão se deixando levar por essa ladainha antievangélica.
Esses inimigos da cruz de Cristo receberão sua paga na eternidade, o engano
proliferado por eles não ficará impune. O caminho deles os conduzirá à
perdição, pois eles estão pregando heresia, o que conduz à punição eterna (II
Ts. 1.9).
3. MAS A
NOSSA CIDADE ESTÁ NOS CÉUS
Os crentes em Jesus não se apavoram diante da
morte, pois sabem que ela é apenas uma passagem para uma eternidade com Cristo.
Estamos na terra e devemos responder com responsabilidade a essa condição. Os
cristãos, enquanto cidadãos da terra, têm direitos e deveres. Precisamos estar
conscientes dessa situação, principalmente nos momentos de cobrar dos
políticos. Há crentes que defendem uma obediência incondicional às autoridades,
mas isso não é ensinado na Bíblia (At. 5.29). A democracia pressupõe
diversidade de poderes e fiscalização por parte do povo, para que os poderes
governem a contento. O respeito às autoridades é bíblico (Rm. 13.1), e deve ser
considerado, mas não irresponsavelmente. Devemos orar, e agir através do voto
(Tt. 3.1), para evitar que tenhamos autoridades que apenas governam para elas
próprias. Por outro lado, não podemos também perder o foco, há líderes
evangélicos que apenas enfatizam a dimensão temporal. Eles se engajam
politicamente, mas se esquecem de que são cidadãos dos céus (Fp. 3.20). Para
não incorrer no equívoco dos religiosos que apenas visualizam o terreno,
devemos saber que “a nossa Pátria está nos céus”. O substantivo para pátria, em
grego, é politeuma, e significa a conduta de alguém no mundo. O homem moderno
está tão centrado no terreno, até mesmo entre aqueles que se dizem evangélicos,
que não conseguem olhar para cima. Como cidadão do céu, o crente tem seu nome
registrado naquele lugar (Lc. 4.3; 10.20), ele aguarda com expectação o momento
que entrará no país celestial (Ap. 20.15). Paulo diz que o crente tem uma
bendita esperança, que é a segunda vinda de Jesus Cristo (Ef. 3.20). Esse tema
está desaparecendo dos púlpitos cristãos, são poucos o que têm interesse de
pregar o arrebatamento da igreja. Mas essa é uma das doutrinas fundamentais da
fé cristã, não podemos perder a esperança na volta de Jesus para arrebatar os
seus (I Ts. 4.13-18). Um dia a trombeta soará e Cristo virá com os Seus anjos,
para ressuscitar aqueles que morreram no Senhor, e para transformar os que
estiverem vivos (I Co. 15.43-53).
CONCLUSÃO
Os inimigos da cruz de Cristo pregam um evangelho
que nada tem a ver com a Palavra de Deus. Eles estão centrados em satisfazer
seus apetites carnais ou em cumprir suas tradições religiosas. Mas os crentes
em Jesus não perdem o foco, pois sabem que quando Cristo se manifestar serão
semelhantes a Ele (I Jo. 3.2). Nesses dias tão difíceis, nos quais as pessoas
estão se distraindo com o terreno, inclusive alguns denominados evangélicos,
não podemos perder o céu de vista. Jesus nos prometeu um lugar, o qual está
preparado, para que estejamos para sempre com Ele (Jo. 14.1).
BIBLIOGRAFIA
MOTYER,
J. A. The message of Phillipians.
Leicester: Inter-versity Press, 1984.
WIERSBE,
W. W. Philippians: be joyfull.
Colorado: David Cook, 2008.