INTRODUÇÃO
Entre os vários assuntos abordados no livro de
Provérbios, a educação dos filhos ocupa lugar de destaque. Na aula de hoje mostraremos,
a partir desse compêndio sapiencial, algumas orientações em relação à instrução
dos filhos no temor do Senhor. Atentaremos, a princípio, à realidade do sistema
educacional moderno, respaldado no relativismo e na ausência de limites. Em
seguida, nos voltaremos para o valor da instrução e correção, com base em
Provérbios. Ao final apresentaremos conselhos práticos para o crescimento não
apenas físico, mas, sobretudo espiritual dos nossos filhos.
1. A
EDUCAÇÃO NA MODERNIDADE
A educação na modernidade está fundamentada em
princípios seculares, isto é, em valores que fogem aos padrões
judaico-cristãos. As instituições de ensino foram tomadas pelo pensamento
iluminista, a ofensiva, nesses últimos anos, está voltada para as famílias. Os
pensadores educacionais se distanciaram de Deus, passaram a negar a realidade
da fé, e a criticar a crença em um Criador. Como resultado, as pessoas estão
cada vez mais sem esperança, voltadas para o materialismo, centradas no egocentrismo.
O material didático produzido para as escolas sequer cogita a possibilidade da
existência de Deus. Muitos professores, formados em universidades centradas no ateísmo,
voltam-se contra a religião, afirmando que essa não passa de ópio. Nessa
correnteza os valores cristãos, há muito defendidos para a família, estão sendo
questionados, em favor de uma tendência culturalista. Tais pensadores incitam
os pais a não repreenderem seus filhos, defendem que a ausência de limites é
necessária para o desenvolvimento do caráter. A consequência dessa realidade é a formação de
uma geração inteira de jovens que não se submete a autoridade dos pais, que desrespeitam
os mais velhos. As orientações paternas deixaram de ter valor, tudo passou a
ser objeto questionamento. Qualquer atitude de censura por parte dos pais é
alvo de denúncia, até mesmo uma simples repreensão. Há ainda a ausência de
ideais, de modelos a serem seguidos, os filhos não tem mais em quem se
espelhar. A ênfase no individualismo enseja também comportamentos dúbios, a
hipocrisia generalizada, assumida como algo normal, a fim de tirar vantagem do
outro. Muitos filhos estão frustrados com os pais, que dizem uma coisa, mas
fazem outra totalmente diferente. Esse comportamento hipócrita adentrou até
mesmo as igrejas, muitos filhos não acreditam mais na fé exposta pelos pais,
que não confere com suas práticas diárias.
2.
PROVÉRBIOS: UMA VISÃO EDUCACIONAL
Em oposição a essa realidade moderna, o livro de
Provérbios nos apresenta uma série de orientações para a educação dos filhos.
Para o autor desse livro a disciplina faz parte do processo de criação dos
filhos. A repreensão não deve ser motivo de culpa, mas uma necessidade, um ato
de amor, de alguém que considera seu filho (Pv. 3.12). A passagem anterior é
citada em Hb. 13.5-11, reforçando o princípio da disciplina amorosa. Ao
contrário do que defendem alguns adeptos do humanismo sem limites, a correção,
quando desempenhada com amor, traz resultados. Há uma passagem bastante
controvertida no livro de Provérbios, que se encontra em Pv. 13.24, na qual
existe uma orientação quanto ao uso da vara. Existem diversas análises
teológicas a respeito do significado desse texto. Para alguns estudiosos, não
se tratava da vara para açoitar, como se costuma fazer em alguns contextos, mas
para chamar a atenção. O princípio, no entanto, permanece em relação à
importância da correção, contanto que essa seja com amor. Essa também precisa
ser feita no tempo apropriado, pois o tipo de disciplina depende da idade, e
não pode ser postergada (Pv. 19.18). Em Pv. 22.6, os pais são orientados a
ensinarem a criança no caminho em que devem andar, para que não se esqueçam dele
quando crescerem. Destacamos inicialmente que o exemplo é relevante, os pais
precisar estar NO caminho, precisam viver o que ensinam, para inspirar os
filhos. Mesmo assim, isso não é garantia de que esses não se desviaram, pois o
livro de Provérbios traz princípios gerais, não verdades específicas.
Evidentemente as chances de se afastarem serão menores se os pais assumirem a responsabilidade
de fazerem a sua parte. Timóteo é um exemplo de um jovem que foi instruído desde a tenra idade nas
sagradas letras, produzindo frutos (II Tm. 3.15). Os filhos não são perfeitos,
têm uma natureza pecaminosa, por isso carecem de repreensão (Pv. 22.15). Esse é
um motivo, em alguns casos, para o uso da vara, a fim de fustigar, não para
espancar, e orientá-los quanto ao caminho a ser trilhado (Pv. 23.13,14). Eli, o
sacerdote, falhou nesse sentido, tratando seus filhos com liberalismo,
resultando em ruina (I Sm. 3.13). Os erros precisam ser identificados e
corrigidos para conduzir os filhos ao caminho da sabedoria (Pv. 29.15). Alguns
filhos causam inquietação nos pais porque não foram disciplinados, não receberam
a correção no tempo adequado, os pais não assumiram sua responsabilidade (Pv.
29.17).
3. ORIENTAÇÕES
CRISTÃS PARA A EDUCAÇÃO DOS FILHOS
A educação dos filhos é uma tarefa complexa, para a
qual os pais devem atentar, cientes das suas possibilidades e limitações. Isso
porque existem diferentes tipos de pais, bem como de filhos, cada um deles com
suas particularidades. Há os pais que são muito dominadores, que querem
controlar todos os comportamentos dos filhos, mas isso pode resultar em
amargura e revolta (Cl. 3.21). Outros os superprotegem, evitando, a qualquer
custo, a frustração, cujo resultado é facilidade desses serem manipulados pelos
outros quando crescerem (Pv. 13.24). Existem pais que acabam causando um
excesso de dependência nos filhos, por serem possessivos e controladores,
acompanham excessivamente tudo que os filhos fazem, fazendo com que esses se
tornem indecisos e temerosos (Jr. 17.5). O oposto disso é a falta de cuidado em
relação aos filhos, a ausência de todo e qualquer tipo de responsabilidade, que
pode causar insegurança e falta de objetivos definidos no futuro (I Tm. 3.4). O
ideal é que os pais busquem ensinar os filhos a se desenvolverem, acompanhando-os,
através do encorajamento sincero, resultando em confiança e sabedoria (Lc.
2.40). Várias passagens da Bíblia admoestam quanto à necessidade de tratar os
filhos com respeito (Cl. 3.21), ao cultivo do diálogo produtivo (I Ts. 4.1), à
identificação de comportamentos negativos (Pv. 19.18), ao encorajamento à
responsabilidade (Pv. 17.5), bem como ao reconhecimento das atitudes positivas
(I Ts. 5.11). A educação dos filhos passa por uma série de atitudes, tais como:
disposição para ouvi-los (Tg. 1.19), manifestação de amor entre os cônjuges (Ef.
5.33), não agir com favoritismo entre os filhos (Tg. 2.1), a disposição para
pedir perdão diante das falhas (Mt. 5.23,24), sabedoria para lidar com as
emoções (Cl. 3.8) e disciplina amorosa, nunca fundamentada na raiva (Ap. 3.19).
CONCLUSÃO
Vivemos em uma sociedade marcada pelo secularismo,
que se distancia cada vez mais dos princípios divinos. O humanismo anticristão
favorece o relativismo e a ausência de regras, de limites. Diante dessa
realidade, precisamos resgatar, a partir de Provérbios, e da Bíblia como um
todo, orientações que oportunizem a educação consistente dos nossos filhos, a
fim de que esses temam ao Senhor, e vivam de acordo com Sua palavra. Mas a
educação deve se pautar também pelo exemplo, não podemos ensinar uma coisa a
agir de modo diferente, isso repercute negativamente na formação dos filhos.
BIBLIOGRAFIA
ORTLUND
JR. R. C. Proverbs: wisdom that
works. Illinois: Crossway, 2012.
WEIRSBE,
W. W. Proverbs: be skillful. Colorado
Springs: David Cook, 2009.
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