Na aula de hoje daremos continuação às
recomendações práticas do Apóstolo aos crentes de Filipos. A princípio, Paulo,
o exemplo a ser imitado, motiva os crentes filipenses a se firmarem na fé. Em
seguida, mostra-lhes a importância da alegria divina, que não depende das
circunstâncias, mas é produzida pelo Espírito. Posteriormente, apresenta um
antídoto contra a ansiedade, cujo fundamento é a paz de Deus, que excede todo
entendimento.
1. EXORTAÇÃO
À FIRMEZA NA FÉ
Paulo identifica os irmãos da igreja de Filipos
como sua “alegria e coroa” (Fp. 4.1). Em grego há duas palavras para coroa:
diadema, que diz respeito a uma coroa real, e stefanos, à coroa usada pelos
vencedores de atletismo. O termo usado pelo Apóstolo é stefanos, aludindo,
assim, à conquista em uma competição olímpica. Ele sabia que, ao chegar ao céu,
receberia um prêmio pelo seu labor pastoral. Os falsos mestres, ao contrário,
buscavam prêmios terrenais, a vanglória humana. Mas Paulo busca uma premiação
celestial, o reconhecimento do Senhor pelo seu trabalho. Em seguida, admoesta
os crentes a permanecerem “firmes no Senhor”. O verbo grego aqui usado é
stekete, e está no imperativo, uma espécie de ordenança dada a um soldado.
Nesse caso o lutador deveria permanecer em sua posição, sem deixar seu lugar
estratégico. Muitos crentes querem abandonar sua posição por qualquer motivo.
Somos instados, pelo mesmo Apóstolo, a sermos firmes e constantes, abundantes
na obra. E mais importante ainda, saber que, no Senhor, não nos homens, nossa
obra não é vã (I Co. 15.58). Adiante Paulo destaca um problema de
relacionamento na igreja de Filipos, que envolvia Evódia e Síntique. Essas
irmãs não deveriam ser descartadas, mas ajudadas a amadurecerem na fé. Ao invés
de buscarem o crescimento da obra, estavam digladiando-se entre si. Essas mulheres
tornaram-se exemplos negativos de partidarismos nas igrejas, que impedem a
maturidade espiritual (I Co. 3.4,5). Muitas igrejas evangélicas estão adoecidas
por causa das disputas por cargos nos departamentos. O corpo de Cristo não pode
ser fragmentado por causa de vaidades pessoais, dos interesses particulares.
Uma igreja que vive em unidade é caracterizada pelo sentimento comum entre os
membros. Isso não quer dizer que todos devem ser iguais, uma das belezas da
igreja está justamente na diferença. Existem pessoas de diferentes condições
socioeconômicas na igreja, todas salvas pelo sangue do mesmo Cordeiro (Gl.
3.26-28). A diversidade pode existir, mas apenas nos aspectos periféricos, no
principal, unidade deve prevalecer. A produção do fruto do Espírito (Gl. 5.22),
em amor (I Co. 13), é o elo que consolida a igreja no Senhor.
2.
ADMOESTAÇÃO À ALEGRIA DIVINA
O Apóstolo retoma o tema da alegria, certamente
porque os crentes filipenses estavam entristecidos. Os judaizantes colocavam um
fardo tão pesado sobre os ombros das pessoas que essas não conseguiam ser
alegres (At. 15.28,29). Os gnósticos apregoavam uma liberdade que era pura
libertinagem, tornando as pessoas escravas dos prazeres. Contra esses caprichos
humanos, a resposta de Paulo é a alegria que vem de Deus (Fp. 4.4). A chara,
alegria do Espírito, não é circunstancial. Ela é resultante da salvação em
Cristo Jesus, que lança o ser humano na liberdade para servir em amor. Jesus
atrai para Ele todos os que estão cansados e sobrecarregados, e coloca sobre
eles o seu jugo, que é suave, e o seu fardo, que é leve (Mt. 11.30). Muitos atualmente
querem felicidade, mas não buscam a verdadeira alegria. Os livros de autoajuda
prometem uma felicidade de bens perecíveis. Mas a alegria que vem de Deus não
resulta daquele que anda em derredor (I Pe. 5.8), mas nAquele que está dentro
de nós (I Jo. 4.4). Em prosseguimento, Paulo orienta os filipenses quanto à
moderação, epieikeia em grego. Esse é um termo bastante amplo, que diz respeito
não apenas ao que é legal, mas ao que é certo. As leis são produções humanas,
nem sempre estão corretas. Os cristãos vivem a partir de uma Lei maior, a de
Cristo, exercitada em graça e amor (Rm. 13.10). O mundo se pauta pelas leis
humanas, que merecem respeito, e na maioria dos casos, obediência. Mas existe
uma lei que está acima de todas as leis, é a Lei de Deus, revelada em Sua
palavra. É a partir dessa que o crente deve viver, e mais importante, que essa
sirva de testemunho da nossa fé em Cristo. Todos os homens devem reconhecer,
pelas nossas práticas, que somos filhos de Deus (Tg. 2.14; I Jo. 3.7,8). Uma
das motivações para o exercício da moderação é que o Senhor está perto. A
dimensão escatológica é condição ética para o viver cristão, pois virá o dia em
que todos prestaremos contas pelo que fizemos no corpo (Rm. 14.10). Muitos
acham que o Senhor está demorando para voltar, por isso estão vivendo
dissolutamente, mas Ele é longânimo (II Pe. 3.8,9). Ao Seu tempo Ele voltará
para levar a Sua igreja, conforme prometeu (Jo. 14.1; I Pe. 2.9). Essa é a
bendita esperança da igreja cristã (Rm. 8.23; I Co. 15.51,52; I Ts. 4.16,17;
Tt. 2.13), não a ganância terrena, como muitos tem apregoado atualmente Todos
aqueles que têm essa esperança não vivem como bem entendem, mas de acordo com a
vontade de Deus (I Jo. 3.3), perfeita, boa e agradável (Rm. 12.1,2).
3. A PAZ DE
DEUS PARA VENCER A ANSIEDADE
A ansiedade é um problema crônico na sociedade
contemporânea, por falta de alegria espiritual, não poucos estão angustiados. Essa
ansiedade, merimnau em grego, pode resultar dos problemas de olharmos para as
circunstâncias. A preocupação com as coisas materiais podem nos distanciar do
foco, que é o céu. O mundo moderno, ao esquecer-se de Deus, perdeu a
tranquilidade. O reino de Mammon é cruel, e desgraçado, não permite que as
pessoas tenham paz. Por causa disso as muitas pessoas são destroçadas, sendo
puxadas, como expressa a etimologia da palavra ansiedade em grego, em direções
opostas. Jesus advertiu a respeito dos perigos de viver em ansiedade constante
(Mt. 5.19-34). O problema da ansiedade é que ela faz com que deixemos de
confiar em Deus, e percamos a paz. O antídoto contra a ansiedade é a oração,
este é o melhor remédio. Ao invés de andarmos ansiosos, devemos levar nossas
preocupações para Deus (Fp. 4.6). Existem três palavras gregas que fazem
referência à oração nessa passagem: oração (proseuche, usado para as petições
gerais ao Senhor), súplica (deesis, a petição em relação às necessidades) e
ação de graça (euxaristia, disposição para agradecer pelos feitos do Senhor). Infelizmente
tudo hoje em dia contribui para que deixemos de orar, até mesmo o excesso de
atividades eclesiásticas. Essa geração esqueceu-se de orar porque se tornou
dependente do pragmatismo. As pessoas querem resultados rápidos, negam-se a
esperar com paciência pelo Senhor, tal como fez o salmista (Sl. 40.1). Como
resultado, não conseguem desfrutar da paz de Deus, que excede “todo o
entendimento” (Fp. 4.7). Somente a paz de Deus é capaz de guardar a nossa
mente, nossos corações e sentimentos em Cristo. As adversidades, principalmente
as perseguições, não conseguem abater o coração cuja mente está em Cristo. É
essa paz, eirene em grego, que nos guarda dos ataques circunstanciais. Nossas
mentes precisam estar protegidas dos pensamentos mundanos. Para isso devemos
levar cativo todo entendimento à obediência de Cristo (II Co. 10.5).
CONCLUSÃO
Os ensinamentos deste mundo, repassados pelos
falsos mestres, levam as pessoas ao desespero. Muitos não conseguem desfrutar
da alegria que vem de Jesus, produzida pelo Espírito Santo (Jo. 15.11). Os
crentes em Jesus permanecem firmes na fé, naquilo que nos foi revelado pela
Palavra, por isso estão sempre alegres, independentemente das circunstâncias.
Esses, por sua vez, têm suas mentes guardadas por Cristo, que lhes dá a paz que o
mundo desconhece (Jo. 14.27), e que excede a todo entendimento.
BIBLIOGRAFIA
HENDRIKSEN, W. Efésios
e Filipenses. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.
WIERSBE,
W. W. Philippians: be joyfull.
Colorado: David Cook, 2008.
Nenhum comentário:
Postar um comentário