INTRODUÇÃO
Dando prosseguimento ao estudo dos dons, na aula de
hoje atentaremos para o propósito dos dons, com ênfase nos espirituais.
Inicialmente contextualizaremos os dons na igreja de Corinto, para a qual Paulo
destinou a Epístola em foco. Em seguida, mostraremos que essa era uma igreja
que, embora tivesse muitos dons, caracterizava-se pela carnalidade. Ao final
ressaltaremos o propósito dos dons espirituais, tomando por base a orientação
de Paulo aos coríntios, bastante apropriadas para os dias atuais.
1. A IGREJA
DE CORINTO
A Igreja de Corinto se vangloriava dos dons
espirituais, recebendo o testemunho de Paulo que não faltava tais manifestações
entre eles (I Co. 1.7). Corinto era uma cidade da antiga Grécia, uma metrópole
nos tempos de Paulo. Em virtude da influência helenista, era berço da filosofia
antiga, por conseguinte, intelectualmente arrogante. Por ser uma cidade
próspera, enfatizava a busca pelos recursos materiais, e ao mesmo tempo,
entregava-se à promiscuidade. Paulo fundou a igreja de Corinto juntamente com
Prisca e Áquila (At. 16.19), e sua equipe missionária (At. 18.5). O Apóstolo
dos gentios permaneceu naquela localidade por dezoito meses, durante sua
segunda viagem missionária (At. 18.1-17). Tratava-se de uma igreja mista,
composta por judeus e gentios, alguns deles provenientes do paganismo. A
Primeira Epístola aos Coríntios, na qual Paulo abordou com propriedade os dons
espirituais, foi escrita durante seu ministério em Éfeso (At. 20.31), na sua
terceira viagem missionária (At. 18.23 – 21.16). Durante sua estada em Éfeso
Paulo tomou conhecimentos dos vários problemas pelos quais passava a igreja de
Corinto (I Co. 1.11), em seguida um grupo de irmãos entregou uma carta a Paulo,
reportando as dificuldades encontradas, e solicitando auxílio do apóstolo para a
resolução dos problemas (I Co. 16.17). Mesmo sendo uma igreja fervorosa, ou
seja, que tinham dons espirituais, também tinha forte propensão à carnalidade
(I Co. 3.1-3), isso revela que uma igreja que tem os dons do Espírito não
necessariamente é espiritual. Isso acontece porque a evidência de
espiritualidade não está nos dons, mas no amor (I Co. 13), mais propriamente na
produção do fruto do Espírito (Gl. 5.22). Dentre os problemas de Corinto
destacamos: divisão e partidarismo (I Co. 1.10-13; 11.17-22), tolerância de
pecado até mesmo do incesto (I Co. 5.1-13), imoralidade sexual generalizada (I
Co. 6.12-20), disputas judiciais entre os cristãos (I Co. 6.1-11), liberalismo
em relação ao pecado (I Co. 8.10), comportamentos inadequados no casamento (I
Co. 7) e escândalos no culto público, bem como na celebração da Ceia (I Co.
11,12 e 14).
2. OS DONS
ESPIRITUAIS EM CORINTO
Dentre os problemas de Corinto, o uso inadequado
dos dons espirituais é um dos principais, Paulo dedica boa parte da I Epístola
a dar esclarecimentos a esse respeito. Os coríntios não compreendiam o
propósito dos dons espirituais na igreja, por isso o apóstolo os instrui para
que não sejam ignorantes (I Co. 12.1). Esses dons (pneumática) não deveriam
servir para a ostentação, eram chamismata, portanto uma graça de Deus, para
desempenhar determinados ministérios, com vistas ao que fosse útil (I Co.
12.7). Havia uma tendência ao individualismo na igreja de Corinto, a
preocupação com os outros deveria ter proeminência. Por isso Paulo admoesta os
crentes à busca dos dons, isto é, ele não proíbe que os use, contanto que seja
com decência e ordem (I Co. 14.40). O culto não deveria ser uma bagunça, as
manifestações do Espírito deveriam ser ordenadas. Além disso, o objetivo do
culto deveria ser glorificar a Cristo (I Co. 12.3), os dons não podem ser um
fim em si mesmo. Os dons podem e devem ser buscados, mas tendo em mente que
existem dons superiores, e que tal gradação depende da funcionalidade, e mais
precisamente da utilidade. Quanto mais útil for o dom, mais importante será,
por isso quem profetiza tem preeminência diante daquele que fala línguas, a
menos que haja quem interprete (I Co. 12.31; 14.28). O critério da alteridade é
importante na manifestação dos dons espirituais. Se considerarmos esse
ensinamento, nos preocuparemos menos conosco e mais com os outros. É justamente
por esse motivo que o fruto do Espírito tem prioridade sobre os dons do
Espírito. A igreja cristã não precisa fazer opção ou pelos dons ou pelo fruto,
há lugar tanto para um quanto para o outro. A demonstração de maturidade de uma
igreja está na demonstração tanto dos dons quanto do fruto. O caminho sobremodo
excelente é o do amor-agape (I Co. 12.31), somente em amor os dons espirituais
cumprem seu propósito (I Co. 14.1). Sem o amor-agape de nada adianta falar as
línguas dos anjos e dos homens, ter o dom de profecia, conhecer todos os
mistérios e toda ciência (I Co. 13.1,2). O amor-agape, diferentemente da
carnalidade egoísta, se caracteriza pela disposição para sofrer pelo outro,
benignidade, e tratamento não leviano. Além disso, quem tem o amor-agape não é
soberbo, não se porta com indecência, não é invejoso, não busca seus
interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas
folga com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Co. 13).
3. O
PROPÓSITO DOS DONS
É no contexto do amor-agape, com sua marca sacrificial,
que os dons espirituais encontram seu real propósito, podem ser manifestos de
acordo com a vontade do Espírito (I Co. 12.11), de acordo com as necessidades,
e ao mesmo tempo, o interesse dos crentes (I Co. 12.31). Por isso os dons
espirituais não dependem da santificação do crente, é possível que um crente
seja carnal e mesmo assim manifeste algum dom (Gl. 5.22,23). É preciso
esclarecer também que existem crentes nas igrejas que podem manifestar certa
regularidade em um dom, mesmo assim eles não podem pensar que são proprietários
dos dons. Isso porque os dons são do próprio Espírito Santo, sendo distribuídos
à igreja, a fim de cumprir propósitos específicos. Os crentes também podem
buscar mais de um dom, essa inclusive é uma recomendação paulina (I Co. 14.1).
Mas dificilmente alguém terá todos os dons, mesmo aqueles apresentados em I Co.
12, tendo em vista que o Espírito opera na diversidade, visando à unidade (I
Co. 12.5). Os dons do Espírito Santo visam: 1) manifestar a graça, o poder, e o
amor do Espírito entre o povo, nas reuniões públicas, nos lares, nas famílias e
nas atividades pessoais (I Co. 12.4-7; 14.25); 2) ajudar a tornar eficaz a
pregação do evangelho aos perdidos, confirmando de modo sobrenatural a mensagem
do evangelho (Mc. 16.15-20; At. 14.8-18); 3) suprir as necessidades humanas,
fortalecer e edificar espiritualmente, tanto a congregação (I Co. 12.7,14-30),
como os crentes individualmente (I Co. 14.4); 4) batalhar com eficácia na
guerra espiritual contra as hostes satânicas (At. 8.5-7; 26.18). Os dons
espirituais devem ser utilizados na comunidade de fé, isto é, na igreja para a
edificação uns dos outros (I Co. 12.25). Os dons são disponibilizados pelo
Espírito para edificar (gr. oikodomeo), ou seja, fortalecer a vida espiritual
da igreja (I Co. 14.26).
CONCLUSÃO
Os dons do Espírito Santo estão disponíveis para a
igreja contemporânea, por isso devemos buscar todos os dons, e mais
precisamente os melhores, aqueles que edificam os outros. Uma igreja madura não
despreza os dons espirituais, sabe que eles são úteis para o fortalecimento da
fé. Mas os crentes precisam equilibrar os dons com o fruto, pois de nada
adianta uma igreja fervorosa, com muitos dons, mas que não cultiva o fruto do
Espírito. Devemos buscar com zelo os melhores dons, principalmente profetizar,
mas sem esquecer-se do caminho sobremodo excelente, o amor-agape (I Co. 12.31;
13.1-7).
BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, F. H. T. de. O batismo
no Espírito Santo e os dons espirituais. Mossoró: Queima-Bucha, 2013.
STAMPS, D. Bíblia de Estudo
Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
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