INTRODUÇÃOAs pessoas estão cada vez mais
centradas em si mesmas, ninguém tem mais tempo para o outro. Por esse
motivo, não são poucas as pessoas que estão sendo abandonadas, inclusive
dentro da igreja. Na lição de hoje trataremos a respeito desse
problema, mostraremos, a princípio, que essa é realidade constatada na
Bíblia. Em seguida, que o abandono pode resultar em solidão. Ao final,
apresentaremos encaminhamentos bíblicos para enfrentar a solidão e o
abandono.
1. ABANDONO, UMA REALIDADE BÍBLICAEm
II Tm. 4.9-18, Paulo, o Apóstolo dos Gentios, relata sua situação de
abandono, ou conforme uma tradução bíblica, de desamparo. O verbo em
grego é egkataleipo que significa “ser deixado para trás” ou “ser
desertado”. O Apóstolo estava preso, provavelmente em sua última prisão
em Roma, por volta do ano 60 d. C. Essas eram suas palavras finais antes
de ser executado por Nero, o sanguinário imperador que mandou incendiar
a cidade de Roma. A expressão “ninguém me assistiu”, no versículo 16, é
um destaque da condição na qual Paulo se encontrava. Mesmo assim, ele
não se desesperou, pois entrou um “mas” na história. Ele diz, no
versículo 17: “Mas o Senhor assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por
mim, fosse cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem e fiquei
livre da boca do leão”. Uma tradução literal diria “o Senhor ficou do
meu lado”. Mas o caso de Paulo não é único de abandono na Bíblia, desde o
Antigo Testamento, o povo de Israel passou por essa realidade. O Senhor
sempre prometeu permanecer do lado do Seu povo, mesmo quando este fosse
desamparado, azab em hebraico (Gn. 28.15; Dt. 31.6,8). O próprio Jesus
passou pala situação de abandono, alguns dos seus ouvintes acharam suas
palavras demasiadamente duras (Jo. 6.60). Os discípulos, nos momentos
angustiantes que antecederam Sua prisão, O deixaram sozinho (Mt.
26.46,47). Posteriormente, depois da Sua prisão, seus discípulos se
distanciaram dEle, Pedro negou que O conhecia (Mt 26.31, 70-72). Na cruz
Jesus se sentiu abandonado pelo Pai, citando o Sl. 22.1, Ele clamou em
oração: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? (Mt. 27.46).
2. O ABANDONO PODE RESULTAR EM SOLIDÃODesde
o princípio, Deus criou o homem para ter companhia, Ele mesmo atestou
que não era bom viver só (Gn. 2.18). Adão estava com Deus, mas precisava
de outro ser humano para conviver. Diante dessa necessidade, Deus criou
Eva e ordenou que se multiplicassem. Depois da Queda Adão e Eva
deixaram de desfrutar da comunhão com o Criador, e entre eles mesmos. O
abandono e a solidão têm causas diversas, dentre elas destacamos: 1)
sociais – a tecnologia está fazendo com que as pessoas fiquem cada vez
mais solitárias e abandonem umas as outras. No trabalho cada um fica no
seu espaço reservado, os membros das famílias não têm mais tempo para
ficarem juntos; 2) urbanização – na medida em que as pessoas se
transferiram para as cidades, foram fechando-se dentro de suas casas,
mais recentemente nos apartamentos, vizinhos que mal se conhecem; 3)
televisão e internet – está tomando o tempo das pessoas ficarem juntas
para conversarem, elas ficam horas à fio diante da tela; 4) baixa
autoestima – as pessoas que têm um pensamento negativo a respeito delas
mesmas tendem ao isolamento, elas se abandonam antes de serem
abandonadas; e 5) medo – por causa das muros, ao invés de pontes,
construídas pela sociedade moderna, cultivamos a cultura do medo de nos
aproximar do outro. O abandono, juntamente com a solidão, pode causar
males às vidas das pessoas. Algumas delas podem desenvolver depressão
por causa do isolamento a que são submetidas. O exibicionismo exagerado
nas redes sociais – facebook e twitter, por exemplo – pode ser um sinal
de solidão. Mas é preciso ter cuidado para não se expor demasiadamente,
pois as consequências podem ser desastrosas. Isso porque nem todas as
pessoas que estão na rede são compreensivas com aqueles que passam por
situações de abandono.
3. COMO ENFRENTAR O ABANDONONem
sempre o abandono é uma realidade, na verdade, conforme já destacamos
anteriormente, pode ser uma consequência do autoisolamento. Por isso, é
recomendável que a pessoa que se sente abandonada, antes de qualquer
coisa, não se abandone. O primeiro passo é reconhecer que Deus é Aquele
que está sempre pronto a estar ao nosso lado (Is. 42.16). Há casos em
que o abandono aconteceu em algum momento da infância e acompanha a
pessoa durante a idade adulta. Em tais situações, a saída é orar pedindo
a Deus que traga à memória tais aflições (Lm. 3.19), em seguida,
entrega-las a Deus em oração. O Salmo 139.1-18 é um modelo de oração que
expressa a presença de Deus, mesmo nas situações adversas, quando o
sentimento de abandono assola o cristão. Ao invés de se queixar,
aprendamos com Paulo a entregar aqueles que nos abandonam a Deus (II Tm.
4.14), e o principal, escolher perdoá-los (Cl. 3.13). A igreja deve ser
um ambiente propício à cura do abandono e da solidão, mas infelizmente,
como esta também foi contaminada pelo isolacionismo moderno, seus
membros não encontram tempo para encorajar uns aos outros (Hb. 3.13). A
igreja precisa estar atenta às pessoas doentes, viciadas, solteiras,
idosas e desempregadas. Em uma sociedade utilitária, que se preocupa com
as pessoas apenas pelo que elas podem fazer, a igreja é tentada a
esquecer dessas pessoas. É preciso criar espaços de integração na igreja
local, evitar a criação das “panelinhas”. A liderança deve investir em
momentos de comunhão, não apenas para o culto, mas para estarem juntas.
CONCLUSÃOO
Deus da Bíblia é de comunhão, por sua própria natureza, é trinitário:
Pai, Filho e Espírito Santo. Ele tem interesse que as pessoas vivam umas
com as outras, por isso criou a família. A igreja é uma extensão dessa
realidade, não por acaso os que se congregam são chamados de irmãos e
irmãs. Mas é preciso cultivar relacionamentos na igreja, caso contrário
ela perde a razão de ser. Portanto, como diz o autor da Epístola aos
Hebreus, no sentido relacional, que deve ser peculiar da ekklesia: “não
deixando de congregar como é costume de alguns” (Hb. 10.25).
BIBLIOGRAFIALUCADO, M. Você não está sozinho. São Paulo: Thomas Nelson, 2012.
REAL, P. Relacionamentos na igreja. São Paulo: Vida, 2003.
REAL, P. Relacionamentos na igreja. São Paulo: Vida, 2003.
José Roberto A. Barbosa
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