domingo, 13 de abril de 2014

LIÇÃO 02 O PROPÓSITO DOS DONS ESPIRITUAIS

INTRODUÇÃO
Dando prosseguimento ao estudo dos dons, na aula de hoje atentaremos para o propósito dos dons, com ênfase nos espirituais. Inicialmente contextualizaremos os dons na igreja de Corinto, para a qual Paulo destinou a Epístola em foco. Em seguida, mostraremos que essa era uma igreja que, embora tivesse muitos dons, caracterizava-se pela carnalidade. Ao final ressaltaremos o propósito dos dons espirituais, tomando por base a orientação de Paulo aos coríntios, bastante apropriadas para os dias atuais.

1. A IGREJA DE CORINTO
A Igreja de Corinto se vangloriava dos dons espirituais, recebendo o testemunho de Paulo que não faltava tais manifestações entre eles (I Co. 1.7). Corinto era uma cidade da antiga Grécia, uma metrópole nos tempos de Paulo. Em virtude da influência helenista, era berço da filosofia antiga, por conseguinte, intelectualmente arrogante. Por ser uma cidade próspera, enfatizava a busca pelos recursos materiais, e ao mesmo tempo, entregava-se à promiscuidade. Paulo fundou a igreja de Corinto juntamente com Prisca e Áquila (At. 16.19), e sua equipe missionária (At. 18.5). O Apóstolo dos gentios permaneceu naquela localidade por dezoito meses, durante sua segunda viagem missionária (At. 18.1-17). Tratava-se de uma igreja mista, composta por judeus e gentios, alguns deles provenientes do paganismo. A Primeira Epístola aos Coríntios, na qual Paulo abordou com propriedade os dons espirituais, foi escrita durante seu ministério em Éfeso (At. 20.31), na sua terceira viagem missionária (At. 18.23 – 21.16). Durante sua estada em Éfeso Paulo tomou conhecimentos dos vários problemas pelos quais passava a igreja de Corinto (I Co. 1.11), em seguida um grupo de irmãos entregou uma carta a Paulo, reportando as dificuldades encontradas, e solicitando auxílio do apóstolo para a resolução dos problemas (I Co. 16.17). Mesmo sendo uma igreja fervorosa, ou seja, que tinham dons espirituais, também tinha forte propensão à carnalidade (I Co. 3.1-3), isso revela que uma igreja que tem os dons do Espírito não necessariamente é espiritual. Isso acontece porque a evidência de espiritualidade não está nos dons, mas no amor (I Co. 13), mais propriamente na produção do fruto do Espírito (Gl. 5.22). Dentre os problemas de Corinto destacamos: divisão e partidarismo (I Co. 1.10-13; 11.17-22), tolerância de pecado até mesmo do incesto (I Co. 5.1-13), imoralidade sexual generalizada (I Co. 6.12-20), disputas judiciais entre os cristãos (I Co. 6.1-11), liberalismo em relação ao pecado (I Co. 8.10), comportamentos inadequados no casamento (I Co. 7) e escândalos no culto público, bem como na celebração da Ceia (I Co. 11,12 e 14).

2. OS DONS ESPIRITUAIS EM CORINTO
Dentre os problemas de Corinto, o uso inadequado dos dons espirituais é um dos principais, Paulo dedica boa parte da I Epístola a dar esclarecimentos a esse respeito. Os coríntios não compreendiam o propósito dos dons espirituais na igreja, por isso o apóstolo os instrui para que não sejam ignorantes (I Co. 12.1). Esses dons (pneumática) não deveriam servir para a ostentação, eram chamismata, portanto uma graça de Deus, para desempenhar determinados ministérios, com vistas ao que fosse útil (I Co. 12.7). Havia uma tendência ao individualismo na igreja de Corinto, a preocupação com os outros deveria ter proeminência. Por isso Paulo admoesta os crentes à busca dos dons, isto é, ele não proíbe que os use, contanto que seja com decência e ordem (I Co. 14.40). O culto não deveria ser uma bagunça, as manifestações do Espírito deveriam ser ordenadas. Além disso, o objetivo do culto deveria ser glorificar a Cristo (I Co. 12.3), os dons não podem ser um fim em si mesmo. Os dons podem e devem ser buscados, mas tendo em mente que existem dons superiores, e que tal gradação depende da funcionalidade, e mais precisamente da utilidade. Quanto mais útil for o dom, mais importante será, por isso quem profetiza tem preeminência diante daquele que fala línguas, a menos que haja quem interprete (I Co. 12.31; 14.28). O critério da alteridade é importante na manifestação dos dons espirituais. Se considerarmos esse ensinamento, nos preocuparemos menos conosco e mais com os outros. É justamente por esse motivo que o fruto do Espírito tem prioridade sobre os dons do Espírito. A igreja cristã não precisa fazer opção ou pelos dons ou pelo fruto, há lugar tanto para um quanto para o outro. A demonstração de maturidade de uma igreja está na demonstração tanto dos dons quanto do fruto. O caminho sobremodo excelente é o do amor-agape (I Co. 12.31), somente em amor os dons espirituais cumprem seu propósito (I Co. 14.1). Sem o amor-agape de nada adianta falar as línguas dos anjos e dos homens, ter o dom de profecia, conhecer todos os mistérios e toda ciência (I Co. 13.1,2). O amor-agape, diferentemente da carnalidade egoísta, se caracteriza pela disposição para sofrer pelo outro, benignidade, e tratamento não leviano. Além disso, quem tem o amor-agape não é soberbo, não se porta com indecência, não é invejoso, não busca seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta (I Co. 13).

3. O PROPÓSITO DOS DONS
É no contexto do amor-agape, com sua marca sacrificial, que os dons espirituais encontram seu real propósito, podem ser manifestos de acordo com a vontade do Espírito (I Co. 12.11), de acordo com as necessidades, e ao mesmo tempo, o interesse dos crentes (I Co. 12.31). Por isso os dons espirituais não dependem da santificação do crente, é possível que um crente seja carnal e mesmo assim manifeste algum dom (Gl. 5.22,23). É preciso esclarecer também que existem crentes nas igrejas que podem manifestar certa regularidade em um dom, mesmo assim eles não podem pensar que são proprietários dos dons. Isso porque os dons são do próprio Espírito Santo, sendo distribuídos à igreja, a fim de cumprir propósitos específicos. Os crentes também podem buscar mais de um dom, essa inclusive é uma recomendação paulina (I Co. 14.1). Mas dificilmente alguém terá todos os dons, mesmo aqueles apresentados em I Co. 12, tendo em vista que o Espírito opera na diversidade, visando à unidade (I Co. 12.5). Os dons do Espírito Santo visam: 1) manifestar a graça, o poder, e o amor do Espírito entre o povo, nas reuniões públicas, nos lares, nas famílias e nas atividades pessoais (I Co. 12.4-7; 14.25); 2) ajudar a tornar eficaz a pregação do evangelho aos perdidos, confirmando de modo sobrenatural a mensagem do evangelho (Mc. 16.15-20; At. 14.8-18); 3) suprir as necessidades humanas, fortalecer e edificar espiritualmente, tanto a congregação (I Co. 12.7,14-30), como os crentes individualmente (I Co. 14.4); 4) batalhar com eficácia na guerra espiritual contra as hostes satânicas (At. 8.5-7; 26.18). Os dons espirituais devem ser utilizados na comunidade de fé, isto é, na igreja para a edificação uns dos outros (I Co. 12.25). Os dons são disponibilizados pelo Espírito para edificar (gr. oikodomeo), ou seja, fortalecer a vida espiritual da igreja (I Co. 14.26).

CONCLUSÃO
Os dons do Espírito Santo estão disponíveis para a igreja contemporânea, por isso devemos buscar todos os dons, e mais precisamente os melhores, aqueles que edificam os outros. Uma igreja madura não despreza os dons espirituais, sabe que eles são úteis para o fortalecimento da fé. Mas os crentes precisam equilibrar os dons com o fruto, pois de nada adianta uma igreja fervorosa, com muitos dons, mas que não cultiva o fruto do Espírito. Devemos buscar com zelo os melhores dons, principalmente profetizar, mas sem esquecer-se do caminho sobremodo excelente, o amor-agape (I Co. 12.31; 13.1-7).

BIBLIOGRAFIA
OLIVEIRA, F. H. T. de. O batismo no Espírito Santo e os dons espirituais. Mossoró: Queima-Bucha, 2013.
STAMPS, D. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa

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